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Investigação e Desenvolvimento

Inês Fragata: “Ser investigador é ser curioso, crítico, paciente, e resiliente ”

Comemora-se hoje, dia 24 de novembro, o Dia Nacional da Cultura Científica. Falámos com Inês Fragata, investigadora da Faculdade de Ciências , para percebermos como é o dia a dia de alguém que dedica a sua vida profissional à investigação.

Inês Fragata: “Ser investigador é ser curioso, crítico, paciente, e resiliente ”

Inês Fragata é investigadora do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais e da Faculdade de Ciências e no seu projeto atual procura perceber como é que o facto de as espécies estarem juntas ao longo do tempo a evoluírem em conjunto, pode afetar a sua capacidade de resistirem a eventos que poderiam destabilizar ecossistemas. “Aquilo que estou a fazer neste momento é criar um mini-ecossistema, ou melhor uma pequena comunidade com três tipos de organismos diferentes, e tentar compreender se ao evoluírem juntos, tornam o ecossistema mais resistente a adversidades externas como, por exemplo, uma seca ou temperaturas extremas.”

Mas ser investigadora não era uma escolha óbvia. “Veio no caminho”, diz-nos Inês enquanto sorri. No 11.º ano cruzou-se pela primeira vez com a Faculdade de Ciências, através de uma palestra, e aqui viria mais tarde a estudar no curso de Biologia. Durante o 1.º ano de licenciatura teve disciplinas de História do Pensamento Biológico e de Evolução que “despertaram o bichinho”.

“No entanto, foi no 3.º ano, quando tive Ecologia Evolutiva com a Professora Margarida Matos, que eu pensei: isto é uma coisa que eu quero fazer! E é isso que me fascina até hoje: eu adoro perceber como é que o ambiente em que as espécies se inserem faz com que elas evoluam (ou não!) ao longo do tempo e de como é que isso, depois, muda a comunidade envolvente.”

Quando questionada sobre o que é que faz um cientista, Inês não tem dúvidas: “um cientista primeiro olha à sua volta e questiona-se o porquê de as coisas serem como são, ou seja, encontra a sua pergunta. A partir daí é analisar o máximo possível os processos, os mecanismos, o que é que está a operar para as coisas acontecerem como acontecem. É fundamental, claro, ter em conta o que outras pessoas já descobriram e ter sentido crítico para perceber se os resultados que está a obter face àquilo que já se sabe, e que já se estudou, fazem sentido.”

Neste dia não poderíamos deixar de falar sobre os vários desafios da ciência e a investigadora afirma convicta: “existem vários!”

“Em primeiro lugar, falando em particular de Portugal, temos um problema de financiamento. Falta financiamento para os investigadores, para os projetos de investigação, para manter as equipas e para haver continuação ao longo do tempo daquilo que as pessoas estão a fazer. Além disso, agora estamos com bastantes problemas com a credibilidade científica. Hoje em dia há uma divulgação muito grande de ciência, as pessoas acabam por ler tudo o que encontram e o problema é que, por vezes, a informação não vem exatamente das fontes de ciência que deviam e não foram os especialistas a falar. Por último, sinto que a ciência precisa de lutar muito para conseguir manter a força de trabalho que tem neste momento e por tornar o ambiente de investigação saudável e estável para as pessoas que trabalham nela.

Questionada sobre se é fácil comunicar ciência, a investigadora afirma que esse ainda é um grande desafio. “Ao tentarmos comunicar a ciência nós estamos a tentar simplificar coisas que não são facilmente simplificáveis. E ao fazermos isso, muitas vezes, deixamos de fora aspetos que podem passar a mensagem errada exatamente porque eliminámos a construção lógica, na tentativa de darmos só um sumário das coisas. Ainda temos muito que melhorar neste âmbito”, realçou.

Mas, apesar de todas as adversidades, é esta profissão que a apaixona. Inês destaca que se tivesse de descrever um investigador em quatro palavras, “diria que é ser curioso, crítico, paciente e resiliente. Eu costumo dizer que os investigadores estão viciados naqueles cinco minutos de resultados ao fim de três anos de trabalho. São aqueles cinco minutos tipo Yes, faz sentido! e pronto, depois é mais não sei quanto tempo até voltarmos a ter qualquer coisa do género”, concluiu.

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