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"As bibliotecas e os bibliotecários têm uma longa história de constante evolução, e assim será sempre"

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"As bibliotecas e os bibliotecários têm uma longa história de constante evolução, e assim será sempre"

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No dia 1 de julho assinala-se o Dia Mundial das Bibliotecas. Para marcar o dia, fomos conhecer a Dr.ª Susana Henriques, bibliotecária da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

O que a fez ser bibliotecária?

Literalmente obra do acaso. Nunca tinha equacionado essa possibilidade. Em miúda, queria ser arquiteta. Ainda hoje tenho um enorme fascínio pela arquitetura. Foi um amigo que trabalhava na Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), que me perguntou se não queria vir trabalhar para cá. Respondi que sim, sem hesitar. Trabalhava noutra área, tinha um emprego fixo, mas a ideia de trabalhar numa biblioteca foi fascinante, irresistível. Mesmo sabendo que vinha com uma avença de 3 meses, sem qualquer garantia de estabilidade, arrisquei. Em boa hora o fiz. Em fevereiro de 1997, iniciei funções como assistente técnica na Biblioteca da FMUL. Vim para ficar. Na altura, para além de uma vontade imensa de aprender, só tinha o 12.º ano e um curso profissional de iniciação à contabilidade pública.

Nestes 23 anos, tenho investido muito na minha formação, mas sempre senti que havia retorno, sempre houve espaço para crescer e progredir. Licenciei-me, fiz uma pós-graduação e hoje sou Mestre em Ciências da Documentação e Informação e Chefe de Divisão da Área de Biblioteca e Informação. Quando olho para trás, sinto que nada acontece por acaso, que este era o meu caminho, a minha vocação. Mas o que mais me fascina, é olhar para a frente e perceber que ainda há muito para aprender, muito para crescer. Continuar a investir na minha formação académica é uma prioridade. As bibliotecas e os bibliotecários têm uma longa história de constante evolução, e assim será sempre.

Qual o papel de um bibliotecário no Ensino Superior?

Entendo as bibliotecas de Ensino Superior, como um serviço de suporte com um papel essencial no apoio ao ensino e aprendizagem, à investigação e à prática clínica (quando ligadas à área da saúde). Em resposta a estas áreas e aos desafios próprios de cada uma delas, hoje um bibliotecário no Ensino Superior assume vários papéis. Para além das funções tradicionais próprias da biblioteconomia, destaco a formação de utilizadores para o desenvolvimento de competências de literacia da informação; a promoção da utilização ética da informação; o apoio à edição e publicação científica e a promoção da Ciência Aberta. Sendo bibliotecária numa escola médica, acrescento também o apoio à medicina baseada na evidência e à translação do conhecimento enquanto veículos promotores da melhoria dos cuidados de saúde.

Quais os principais desafios que enfrenta diariamente?

Estando integrada no Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML), o maior desafio é estar à altura das necessidades e expectativas de uma Escola Médica (FMUL), de um Instituto de Investigação (IMM) e de um Hospital (HSM), dando resposta a alunos, docentes, investigadores e profissionais de saúde. Esta é a nossa prioridade conforme expresso no nosso lema: “trabalhar sempre em prol das necessidades do utilizador e dos seus interesses, chamando a si a responsabilidade de desenvolver incessantemente as suas capacidades profissionais e de relacionamento humano, revelando interesse pelo evoluir das tecnologias da informação, pesquisando novas fontes de informação em saúde, de modo a estabelecer com o utilizador uma cumplicidade profissional que conduza à excelência dos serviços prestados.”

A era digital afastou as pessoas das bibliotecas?

Garantidamente que não. Muito pelo contrário. Inicialmente, a era digital foi encarada como uma ameaça que iria afastar as pessoas das bibliotecas, mas hoje há evidências que comprovam o contrário. Temeu-se que os utilizadores deixassem de utilizar os espaços físicos, mas não é verdade. Continuamos a ter as bibliotecas com ocupação máxima, continuamos a ampliar e construir novas bibliotecas, oferecemos espaços de estudo abertos 24h por dia, 7 dias por semana. A grande diferença é que a biblioteca enquanto espaço físico, criou outras dinâmicas, deixou de ser apenas uma sala para consulta de livros, num ambiente absolutamente silencioso. Hoje, quem procura a biblioteca, quer um espaço de estudo, salas para reunir e trabalhar em grupo, espaços multimédia, um ponto de encontro, de aprendizagem, de experimentação e criação de conhecimento.

Por outro lado, criou-se a ideia de que estando a informação disponível online, o papel dos bibliotecários iria esgotar-se naturalmente. Outro erro. Veja-se a situação que vivemos atualmente. A explosão de informação sobre Covid-19 trouxe-nos uma responsabilidade maior: separar o trigo do joio e minimizar os efeitos da “infodemia” instalada. Por todo o mundo, as bibliotecas e os seus profissionais assumem um papel relevante na identificação e divulgação de recursos, no estabelecimento de protocolos de colaboração com editores, no apoio à pesquisa e seleção de informação credível e efetivamente útil. Se investirmos no desenvolvimento de competências, se nos mantivermos disponíveis para os desafios emergentes, se adotarmos uma postura proactiva, o nosso papel jamais se esgotará. As bibliotecas podem ser digitais, analógicas, hibridas, mas serão sempre bibliotecas e nós seremos sempre agentes de mudança e parceiros das Instituições de Ensino Superior.

De que maneira as bibliotecas se adaptaram às necessidades do ensino à distância?

Um dos nossos slogans é: “A Biblioteca à distância de um Clique. Estamos onde tu estás!” Neste cenário atípico, os recursos digitais ganharam protagonismo e nunca este slogan fez tanto sentido. O acesso remoto à biblioteca digital, revelou-se essencial no apoio ao ensino à distância. No nosso caso, este apoio já acontecia. Nos últimos anos a Faculdade fez um grande investimento nesta área. Para além do acesso à B-on, assinamos plataformas específicas de apoio ao ensino médico – ebooks, casos clínicos, vídeo atlas de anatomia, testes de conhecimento, entre outros. Apostámos no reforço da estratégia de comunicação, e passámos a disponibilizar apoio online – serviço de referência e formação. Na página da biblioteca criámos uma área com acesso livre a informação relevante no âmbito da  COVID. Por outro lado, os editores conscientes da situação atípica que se vive por todo mundo, foram exemplares na rapidez de resposta, disponibilizando acesso livre a conteúdos habitualmente subscritos, pelo que, mesmo para as bibliotecas com menos recursos, foi possível garantir maior apoio aos utilizadores. 

Qual o episódio que mais a marcou enquanto bibliotecária?

Felizmente, estes 23 anos têm sido muito gratificantes. Há muitos momentos que me marcaram tanto a nível profissional como pessoal, muito boas memórias. Destaco as obras de ampliação e modernização da sala de leitura da Biblioteca-CDI que reabriu em 2018, com mais espaço e adaptada ao que deve ser uma biblioteca moderna. Não foi uma obra fácil, porque exigiu um enorme esforço de coordenação de todas as equipas de trabalho envolvidas, com muito stress associado, mas cujo resultado final foi muito feliz. Conseguimos modernizar e garantir melhores condições aos utilizadores, sem perder a traça original, mantendo a ligação a alguns elementos históricos que evocam o lema da FMUL “Uma Escola que honra o passado e constrói o futuro.”

Não posso deixar de referir também a abertura do ano académico e o acolhimento aos novos alunos. Os alunos são a vida da Faculdade. Entendo o início de cada ano letivo, como um renascer, uma lufada de ar fresco, uma oportunidade de nos reinventarmos, começar de novo e fazer melhor. A expressão de felicidade e esperança que cada novo aluno traz no rosto, é das coisas mais bonitas de se ver. A leitura do Juramento de Hipócrates, é um momento que não perco. Este ano, é provável que o acolhimento aconteça num formato diferente, adaptado às circunstâncias atuais, mas não menos importante. A biblioteca voltará a estar presente para receber os novos alunos e estabelecer uma relação de proximidade desde o primeiro momento, deixando um desafio a cada novo aluno – Faz da Nossa Biblioteca a Tua Biblioteca!

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